segunda-feira, 1 de março de 2010

Figuras de Linguagem 1 – Hipérbole

(Professor André Luís Cézar, professor de Redação e diretor da Nativa Vestibulares)

Hipérbole é um tipo de exagero. Se alguém disser: “Estou com tanta fome que comeria quilos de salgadinhos”, estará usando uma hipérbole. Desse modo, são exemplos de uso hiperbólico:
“O professor explicou mil vezes o mesmo assunto.”
“A moça chorou rios de lágrimas pela perda do namorado.”

Para os que precisam de algo mais, pensando nos vestibulares mais concorridos, existe aquilo a que a crítica literária chama de hipérbole camoniana: trata-se do emprego desse recurso estilístico na obra de Luís Vaz de Camões, principalmente na sua poesia lírica. Vejamos este conhecido soneto do escritor português:

Aquela triste e leda madrugada,
Cheia toda de mágoa e piedade,
Enquanto houver no mundo saudade
Quero que seja sempre celebrada.

Ela só, quando amena e marchetada
Saía, dando à terra claridade,
Viu apartar-se de uma outra vontade,
Que nunca poderá ver-se apartada.

Ela só viu as lágrimas em fio,
Que de uns e de outros olhos derivadas,
Juntando-se formaram largo rio.

Ela ouviu as palavras magoadas,
Que puderam tornar o fogo frio
E dar descanso às almas condenadas.

O trecho destacado é claramente hiperbólico, pois contém o evidente exagero de que as lágrimas dos olhos dos dois apaixonados formaram um (largo) rio. Porém, em Camões, as hipérboles têm a força do exagero atenuada por uma espécie de sinceridade discreta, ou seja, a intenção não é exatamente a de exagerar, mas de gerar intensa força dramática, o que afasta a imagem construída pela hipérbole do mal gosto grosseiro e vulgar.
Concluindo, neste bonito soneto camoniano, o poeta intensifica a dramaticidade do evento tematizado valendo-se de um dos processos figurativos mais comuns: a hipérbole.