quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Literatura: Comentário de "Dom Casmurro", de Machado de Assis - Parte 2

1. O Narrador em Dom Casmurro

O narrador de Dom Casmurro, Bento, é um narrador problemático em dois sentidos:
a) Como entidade psicológica, por se tratar de um homem afetivamente mutilado;
b) Como foco narrativo, porque narra algo que não conhece com exatidão.

Bentinho é o tipo de narrador não-confiável, enganoso, que sempre afirma o contrário do que sente. Desse modo, como esse narrador-personagem domina tudo na narrativa, o resultado final é de dúvidas que permanecem sem esclarecimento, mesmo após o término da leitura, o que  caracteriza o livro como obra aberta.

2. Espaço/Tempo

O tempo predominante em Dom Casmurro é o tempo psicológico, ou de duração interior. A história se passa no Rio de Janeiro do Segundo Reinado, num ambiente de classe média abastada.
É interessante ressaltar que a narrativa de Dom Casmurro desloca o interesse do cenário exterior para o íntimo das personagens.

3. Estilo

Verifica-se em Dom Casmurro o estilo ziguezagueante: ao utilizar o recurso da digressão ocorre a quebra da linearidade da narrativa, bastante comum nessa obra. O narrador Bentinho frequentemente suspende o fluxo narrativo para discorrer sobre assuntos como:
a) o método adotado no livro (capítulo 59);
b) possível reação do leitor face a sua vida e obra (capítulo 119);
c) esboço de perfis psicológicos de personagens alheios à narrativa (capítulo 127).


Veja também:
Comentário de "Dom Casmurro", de Machado de Assis - Parte 1